REGULAMENTO DO CONCURSO DE POESIA INSPIRADO EM
O SENHOR COGITO DE ZBIGNIEW HERBERT
1. O Concurso de Poesia inspirado em O Senhor Cogito de Zbigniew Herbert é organizado
pela Associação Polaco-Ibérica Arendi Cultural, em parceria com o Centro de Estudos
Comparatistas (CEComp) da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a editora
Cavalo de Ferro, a associação Dias Úteis podcast | Associação de Ideias e Stowarzyszenie
Miłośników Portugalii „My Lisbon Story”.
2. O Concurso é organizado por ocasião do centenário do nascimento do poeta e ensaísta
polaco, Zbigniew Herbert, que se comemora em 2024.
3. O Concurso tem como objetivos homenagear e divulgar a obra de Zbigniew Herbert em
Portugal, constituindo igualmente um estímulo à criação literária através da recriação da
poesia herbertiana, a partir da obra O Senhor Cogito (Anexo 1).
4. É dirigido a cidadãos de Portugal, do Brasil e dos Países Africanos de Língua Oficial
Portuguesa (PALOP), cuja língua materna seja o português.
5. É dirigido a cidadãos maiores de idade, que desejem escrever um poema inspirado na
série O Senhor Cogito.
6. Os participantes no Concurso devem anexar ao trabalho submetido a concurso a ficha de
inscrição preenchida com a autorização de tratamento e publicação de dados pessoais,
caso o seu trabalho venha a ser premiado e/ou publicado (Anexo 2).
7. As candidaturas são apresentadas individualmente, podendo cada participante
apresentar um máximo de dois poemas.
8. Os trabalhos submetidos a concurso são obrigatoriamente poemas inéditos, sendo o seu
autor também o detentor dos direitos de publicação.
9. Requisitos a levar em linha de conta na criação poética (poemas):
a) ser escrito em língua portuguesa;
b) ser inédito, original e criativo – tema livre – o que não impede que possa ser um
pastiche;
c) respeitar o espírito meditativo (filosófico-ético) da série O Senhor Cogito;
d) inspirar-se no estilo literário da série o Senhor Cogito (Anexo 1);
e) ter no máximo 25 linhas;
f) incluir obrigatoriamente no título o nome da personagem Senhor Cogito;
10. Os trabalhos submetidos a Concurso não podem infringir a lei, nem os direitos de
terceiros, inclusive direitos de personalidade, nem as normas sociais universalmente
consagradas.
11. Os poemas são enviados para o endereço eletrónico da Associação Polaco-Ibérica:
arendicultural@gmail.com com a identificação no assunto CONCURSO DE POESIA DE
ZBIGNIEW HERBERT. Os poemas são enviados no corpo do e-mail, sendo compilados
anonimamente pela presidente da Associação Arendi Cultural, Katarina Lavmel, num único
documento a enviar aos elementos do júri.
12. Os trabalhos submetidos sem o envio em anexo da ficha de inscrição (Anexo 2) não
serão aceites no Concurso.
13. Ao participar no Concurso, os participantes declaram aceitar as condições de
participação enunciadas no Regulamento do Concurso e dos Anexos, bem como as suas
disposições.
14. Calendário do concurso. O concurso decorre entre o dia 21 de março de 2024 e termina
no dia 15 de julho, sendo a hora limite para a submissão dos poemas às 23h 59 min.
15. A escolha dos poemas vencedores será efetuada com base numa seleção de poemas
finalistas, submetidos dentro do prazo e acompanhados do Anexo 2 devidamente
preenchido. A seleção fica a cargo da presidente da Associação Polaco-Ibérica Arendi
Cultural que também verificará a regularidade formal das candidaturas recebidas.
16, Os poemas finalistas serão avaliados por um Júri constituído pelos seguintes jurados:
a) Ricardo Gil Soeiro – professor universitário e poeta – CEComp – UL;
b) Diogo Madre Deus – editor de Zbigniew Herbert – Cavalo de Ferro;
c) José Carlos Dias – leitor de português na Universidade de Varsóvia;
d) Monika Rawska – lusitanista e tradutora;
e) Teresa Fernandes Swiatkiewicz – tradutora de Zbigniew Herbert – presidente do júri.
17. Nas suas deliberações, o Júri fará a leitura das obras admitidas a concurso, tendo em
consideração os requisitos referidos no ponto 9 e no Anexo 1.
18. As deliberações do Júri do Concurso são tomadas por maioria dos votos dos seus
membros, não havendo recurso nem reclamação das mesmas. Em caso de empate, a
presidente do júri terá voto de qualidade.
19. A divulgação dos resultados do Concurso ocorrerá até 15 de setembro nas páginas
eletrónicas e nas redes sociais das seguintes instituições: Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa; Boletim do Centro de Estudos Comparatistas, Arendi Cultural –
Associação POLACO-IBÉRICA, FB da editora Cavalo de Ferro e de Stowarzyszenie
Miłośników Portugalii „My Lisbon Story”.
20. A publicação dos resultados dos vencedores do Concurso implica a divulgação dos
nomes dos autores, a identificação da localidade e do país de residência, bem como a sua
profissão.
21. Ao participar no Concurso, os autores autorizam a divulgação dos poemas nos canais
de publicação das instituições supramencionadas e a eventual publicação em livro dos
poemas.
22. Os autores premiados autorizam a divulgação dos poemas no podcast da plataforma
“Dia Úteis”, sendo depois o podcast exibido (um ano depois, em replay) na Antena 1
Açores.
23. Serão atribuídos três prémios, patrocinados pela Embaixada da Polónia e pela editora
Cavalo de Ferro, ao vencedor e às duas menções honrosas:
a) O autor do poema vencedor receberá equipamento de TI e livros;
b) Os autores das duas menções honrosas receberão livros.
24. A entrega dos prémios realizar-se-á previsivelmente em outubro, no mês do nascimento
do poeta, em sala a designar na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Os
premiados deverão comparecer para receber o prémio, cobrindo a expensas próprias o
montante associado à sua deslocação.
25. Direitos de Autor – ao participar no Concurso nos termos do presente Regulamento o
participante declara que:
a) possui os direitos exclusivos e ilimitados do trabalho submetido;
b) concorda com a publicação do poema nos canais de comunicação dos
organizadores e seus parceiros;
c) concorda, conforme declaração anexa, com a transferência de direitos
patrimoniais de autor sobre os trabalhos, livres de quaisquer direitos de terceiros;
d) autoriza a divulgação / publicação graciosa dos poemas.
26. Caso se verifique fraude ou plágio nos trabalhos submetidos a concurso ou
irregularidades em qualquer das declarações mencionadas no presente Regulamento, o
participante assume plena e exclusiva responsabilidade face a eventuais reclamações de
terceiros e declara que resolverá todos os danos daí resultantes causados ao Organizador.
27. Das situações supramencionadas resulta a desqualificação do Concurso e a obrigação
da devolução do prémio atribuído pelo Organizador.
28. Qualquer dúvida ou esclarecimento adicional pode ser solicitado através do e-mail
arendicultural@gmail.com
ANEXO 1
Criada por Zbigniew Herbert, em 1974, a personagem literária Senhor Cogito surge em algumas das suas obras. Como o próprio nome indica, Herbert inspirou-se no princípio filosófico de Descartes, Cogito ergo sum.
A personagem reveste-se, por vezes, de aspetos autobiográficos, mas, de uma maneira geral, o Senhor Cogito representa o ser humano que pensa e medita sobre diferentes situações da vida, da existência e do mundo, levantando um conjunto de questões culturais, históricas e éticas na perspetiva do pós-guerra e do pós-humanismo. A personagem Senhor Cogito trouxe uma nova dicção à poesia polaca, dando voz ao protótipo do homem pensante, sobrevivente da II Guerra Mundial, na segunda metade do século XX. Por tal razão, versa amiúde o ser humano no contexto dos dramas da sua vida.
As meditações do Senhor Cogito enquadram-se no âmbito do repto de “como escrever poesia depois de Auschwitz” e num pano de fundo de referências à cultura clássica (grego-latina) e renascentista, bem como à tradição cristã. Herbert, contrariamente a alguns dos seus pares não abordou a crise de valores, resultante da II Guerra Mundial, com desespero e fúria, tentando antes reconstruir o mundo a partir de escombros por meio de meditações assentes na experiência de uma infância e adolescência felizes, rica em valores positivos, inculcados pela família e pelos professores.
Como sintetiza Agnieszka Kluba «O Senhor Cogito conhece e admira o ideal de perfeição estóica, mas reconhece humildemente as limitações e fraquezas da sua própria natureza. Fala amiúde a partir da posição de observador, relatando o curso dos acontecimentos».
Características de O Senhor Cogito:
- distanciamento de si próprio;
- ironia condescentente;
- poesia escrita em tom de conversa ou de diálogo consigo mesmo ou com a tradição cultural;
- poesia escrita como quem se põe a pensar e a meditar;
- discurso, por vezes, literal, por vezes, simbólico;
- discurso ligeiramente moralizador;
- discurso, por vezes, aparentemente ingénuo, mas consciente;
- poesia que emana a sabedoria de quem sobreviveu à guerra, à crise de valores e conhece o mundo e o homem do lado direito e avesso;
- antipatia face a doutrinas, regimes, massas e multidões em prol da dúvida, da liberdade de pensamento e do homem individual;
- evocação de personagens históricas ou mitológicas (Nike, Gilgamesh, Heitor, Roland, Hamlet, Marco Aurélio, etc);
- busca de valores duradouros no mundo moderno: verdade, beleza, bondade.
Características estilísticas:
- frequente ausência de pontuação;
- verso livre e branco;
- metáforas transparentes;
- comparações.
O Senhor Cogito medita sobre o sofrimento
Todas as tentativas de afastamento
do chamado cálice de fel —
através da reflexão
loucas ações em prol de gatos vadios
respiração funda
religião —
fracassaram
há que concordar
inclinar a cabeça suavemente
não baixar os braços
usar o sofrimento com a suavidade possível
como uma prótese
sem falsa vergonha
mas também sem orgulho
não brandir o coto
sobre as cabeças dos outros
não bater com a bengala branca
nas janelas dos satisfeitos
beber extratos de ervas amargas
mas não até ao fim
deixar prudentemente
uns goles para o futuro
aceitar
mas ao mesmo tempo
alhear-se
e se possível
fazer da matéria do sofrimento
uma coisa ou uma pessoa
brincar
com ela
claro
brincar
brincar com ela
com muita cautela
como uma criança enferma
que nos leva a fazer
habilidades tolas
e um pálido
sorriso
O abismo do Senhor Cogito
Em casa está sempre em segurança
mas assim que cruza o limiar da porta
pela manhã
para dar um passeio
o Senhor Cogito depara-se com o abismo
não é o abismo de Pascal
não é o abismo de Dostoievski
é um abismo
à medida do Senhor Cogito
dias insondáveis
dias que despertam terror
o abismo segue-o como uma sombra
pára junto à padaria
no jardim sobre os ombros do Senhor Cogito
lê com ele o jornal
incomodativo como um eczema
fiel como um cão
superficial demais para lhe engolir
cabeça mãos e pernas
talvez um dia
o abismo cresça
o abismo amadureça
e se torne uma coisa séria
nem que seja para saber
que água bebe
de que grãos se alimenta
agora
o Senhor Cogito
poderia apanhar
uns punhados de areia
e tapá-lo
mas não o faz
por isso quando
volta para casa
deixa o abismo
no limiar da porta
cobrindo-o com cuidado
com o pedaço de um trapo velho
O Senhor Cogito lê o jornal
Na primeira página
lê-se que foram mortos 120 soldados
a guerra já dura há muito
é possível habituar-se
logo ao lado uma notícia
de um crime sensacional
com a fotografia do assassino
o olhar do Senhor Cogito
move-se com indiferença
após a chacina dos soldados
para mergulhar com prazer
na descrição do quotidiano macabro
um trabalhador rural de trinta anos
sob influência de uma profunda depressão
matou a mulher
e os dois filhos pequenos
descrevia-se com precisão
o desenrolar do homicidio
a posição dos corpos
e outros pormenores
não vale a pena procurar no mapa
os 120 mortos em combate
porque uma distância desmedida
os oculta como uma selva
não apela à imaginação
são demasiados
o número zero no final
transforma-os em abstracção.
um tema para reflectir:
a aritmética da compaixão
O Senhor Cogito e a imaginação
1
O Senhor Cogito nunca confiou
nos ardis da imaginação
o piano de cauda no cume dos Alpes
a tocar falsos concertos
não apreciava labirintos
a esfinge enchia-o de aversão
morava numa casa sem cave
espelhos e dialéctica
as selvas de quadros emaranhados
não eram a sua pátria
raramente se elevava
nas asas de uma metáfora
de onde a seguir caía como Ícaro
nos braços da Grande Mãe
adorava tautologias
explicação
idem per idem
que um pássaro é um pássaro
escravidão é escravidão
faca é faca
morte é morte
amava
o horizonte plano
a linha recta
a atracção exercida pela Terra
2
O Senhor Cogito será incluído
na espécie minores
acolherá indiferente o veredicto
dos futuros homens das letras
usava a imaginação
para outros propósitos
queria fazer dela
instrumento de compaixão
desejava compreender na íntegra
– a noite de Pascal
– a natureza do diamante
– a melancolia dos profetas
– a ira de Aquiles
– a loucura dos genocidas
– os sonhos de Maria Stuart
– o medo do homem de neanderthal
– o desespero dos últimos Astecas
– a longa agonia de Nietzsche
– a alegria do pintor de Lascaux
– o crescimento e o declínio do carvalho
– a ascensão e a queda de Roma
logo, dar vida aos mortos
manter a aliança
a imaginação do Senhor Cogito
tem movimento pendular
move-se com precisão
de sofrimento em sofrimento
nela não há lugar
para os fogos-de-artifício da poesia
gostaria de continuar fiel
à claridade da incerteza
Tradução de Teresa Fernandes Swiatkiewicz
Mais informação em:
https://en.wikipedia.org/wiki/Mr._Cogito
https://viciodapoesia.com/2012/11/13/zbigniew-herbert-1924-1998-poemas-do-senhor-cogito
https://en.wikipedia.org/wiki/Zbigniew_Herbert
https://escamandro.wordpress.com/2012/10/19/zbigniew-herbert/
ANEXO 2
FICHA DE INSCRIÇÃO
Concurso de poesia inspirado na personagem Senhor Cogito de Zbigniew Herbert.
Nome completo: ____________________________________________________________
_______________________________________________________________________
Data de nascimento: _______/________/_________
Nacionalidade: _____________________________________________________________
Profissão: _________________________________________________________________
Morada: ______________________________________________________________ Código postal: _______/________ Localidade: ___________________________________ Telemóvel: _____________________ E-mail: _________________________________ Título do poema:____________________________________________________________
Tomei conhecimento do regulamento do Concurso de poesia inspirado na personagem Senhor Cogito de Zbigniew Herbert e declaro que aceito as condições nele expressas.
_______________________________________________________________________
(Data e assinatura)
Autorização de tratamento e publicação de dados pessoais
Autorizo o tratamento e publicação dos meus dados pessoais, fornecidos na ficha de inscrição, no âmbito do referido Concurso no respeitante a: primeiro e último nome; nacionalidade; profissão e imagem (para os vencedores do concurso, se for transferida/tirada durante a cerimónia de entrega de prémios) na página eletrónica das instituições organizadoras do concurso e respetivas redes sociais, caso o meu poema seja o vencedor, venha a obter uma menção honrosa no referido Concurso, ou venha a ser selecionado para publicação em livro.
_______________________________________________________________________
(Data e assinatura)