REGULAMENTO DO CONCURSO DE POESIA INSPIRADO EM O SENHOR COGITO DE ZBIGNIEW HERBERT ORGANIZADO PELA ASSOCIAÇÃO POLACO-IBÉRICA ARENDI CULTURAL

REGULAMENTO DO CONCURSO DE POESIA INSPIRADO EM O SENHOR COGITO DE ZBIGNIEW HERBERT ORGANIZADO PELA ASSOCIAÇÃO POLACO-IBÉRICA ARENDI CULTURAL
20 Março 2024

 

                     

                  REGULAMENTO DO CONCURSO DE POESIA INSPIRADO EM
                          O SENHOR COGITO DE ZBIGNIEW HERBERT

1. O Concurso de Poesia inspirado em O Senhor Cogito de Zbigniew Herbert é organizado
pela Associação Polaco-Ibérica Arendi Cultural, em parceria com o Centro de Estudos
Comparatistas (CEComp) da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a editora
Cavalo de Ferro, a associação Dias Úteis podcast | Associação de Ideias e Stowarzyszenie
Miłośników Portugalii „My Lisbon Story”.
2. O Concurso é organizado por ocasião do centenário do nascimento do poeta e ensaísta
polaco, Zbigniew Herbert, que se comemora em 2024.
3. O Concurso tem como objetivos homenagear e divulgar a obra de Zbigniew Herbert em
Portugal, constituindo igualmente um estímulo à criação literária através da recriação da
poesia herbertiana, a partir da obra O Senhor Cogito (Anexo 1).
4. É dirigido a cidadãos de Portugal, do Brasil e dos Países Africanos de Língua Oficial
Portuguesa (PALOP), cuja língua materna seja o português.
5. É dirigido a cidadãos maiores de idade, que desejem escrever um poema inspirado na
série O Senhor Cogito.
6. Os participantes no Concurso devem anexar ao trabalho submetido a concurso a ficha de
inscrição preenchida com a autorização de tratamento e publicação de dados pessoais,
caso o seu trabalho venha a ser premiado e/ou publicado (Anexo 2).
7. As candidaturas são apresentadas individualmente, podendo cada participante
apresentar um máximo de dois poemas.
8. Os trabalhos submetidos a concurso são obrigatoriamente poemas inéditos, sendo o seu
autor também o detentor dos direitos de publicação.
9. Requisitos a levar em linha de conta na criação poética (poemas):
a) ser escrito em língua portuguesa;
b) ser inédito, original e criativo – tema livre – o que não impede que possa ser um
pastiche;
c) respeitar o espírito meditativo (filosófico-ético) da série O Senhor Cogito;
d) inspirar-se no estilo literário da série o Senhor Cogito (Anexo 1);
e) ter no máximo 25 linhas;
f) incluir obrigatoriamente no título o nome da personagem Senhor Cogito;
10. Os trabalhos submetidos a Concurso não podem infringir a lei, nem os direitos de
terceiros, inclusive direitos de personalidade, nem as normas sociais universalmente
consagradas.
11. Os poemas são enviados para o endereço eletrónico da Associação Polaco-Ibérica:
arendicultural@gmail.com com a identificação no assunto CONCURSO DE POESIA DE
ZBIGNIEW HERBERT. Os poemas são enviados no corpo do e-mail, sendo compilados
anonimamente pela presidente da Associação Arendi Cultural, Katarina Lavmel, num único
documento a enviar aos elementos do júri.
12. Os trabalhos submetidos sem o envio em anexo da ficha de inscrição (Anexo 2) não
serão aceites no Concurso.
13. Ao participar no Concurso, os participantes declaram aceitar as condições de
participação enunciadas no Regulamento do Concurso e dos Anexos, bem como as suas
disposições.
14. Calendário do concurso. O concurso decorre entre o dia 21 de março de 2024 e termina
no dia 15 de julho, sendo a hora limite para a submissão dos poemas às 23h 59 min.
15. A escolha dos poemas vencedores será efetuada com base numa seleção de poemas
finalistas, submetidos dentro do prazo e acompanhados do Anexo 2 devidamente
preenchido. A seleção fica a cargo da presidente da Associação Polaco-Ibérica Arendi
Cultural que também verificará a regularidade formal das candidaturas recebidas.
16, Os poemas finalistas serão avaliados por um Júri constituído pelos seguintes jurados:
a) Ricardo Gil Soeiro – professor universitário e poeta – CEComp – UL;
b) Diogo Madre Deus – editor de Zbigniew Herbert – Cavalo de Ferro;
c) José Carlos Dias – leitor de português na Universidade de Varsóvia;
d) Monika Rawska – lusitanista e tradutora;
e) Teresa Fernandes Swiatkiewicz – tradutora de Zbigniew Herbert – presidente do júri.
17. Nas suas deliberações, o Júri fará a leitura das obras admitidas a concurso, tendo em
consideração os requisitos referidos no ponto 9 e no Anexo 1.
18. As deliberações do Júri do Concurso são tomadas por maioria dos votos dos seus
membros, não havendo recurso nem reclamação das mesmas. Em caso de empate, a
presidente do júri terá voto de qualidade.
19. A divulgação dos resultados do Concurso ocorrerá até 15 de setembro nas páginas
eletrónicas e nas redes sociais das seguintes instituições: Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa; Boletim do Centro de Estudos Comparatistas, Arendi Cultural –
Associação POLACO-IBÉRICA, FB da editora Cavalo de Ferro e de Stowarzyszenie
Miłośników Portugalii „My Lisbon Story”.

20. A publicação dos resultados dos vencedores do Concurso implica a divulgação dos
nomes dos autores, a identificação da localidade e do país de residência, bem como a sua
profissão.
21. Ao participar no Concurso, os autores autorizam a divulgação dos poemas nos canais
de publicação das instituições supramencionadas e a eventual publicação em livro dos
poemas.
22. Os autores premiados autorizam a divulgação dos poemas no podcast da plataforma
“Dia Úteis”, sendo depois o podcast exibido (um ano depois, em replay) na Antena 1
Açores.
23. Serão atribuídos três prémios, patrocinados pela Embaixada da Polónia e pela editora
Cavalo de Ferro, ao vencedor e às duas menções honrosas:
a) O autor do poema vencedor receberá equipamento de TI e livros;
b) Os autores das duas menções honrosas receberão livros.
24. A entrega dos prémios realizar-se-á previsivelmente em outubro, no mês do nascimento
do poeta, em sala a designar na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Os
premiados deverão comparecer para receber o prémio, cobrindo a expensas próprias o
montante associado à sua deslocação.
25. Direitos de Autor – ao participar no Concurso nos termos do presente Regulamento o
participante declara que:
a) possui os direitos exclusivos e ilimitados do trabalho submetido;
b) concorda com a publicação do poema nos canais de comunicação dos
organizadores e seus parceiros;
c) concorda, conforme declaração anexa, com a transferência de direitos
patrimoniais de autor sobre os trabalhos, livres de quaisquer direitos de terceiros;
d) autoriza a divulgação / publicação graciosa dos poemas.
26. Caso se verifique fraude ou plágio nos trabalhos submetidos a concurso ou
irregularidades em qualquer das declarações mencionadas no presente Regulamento, o
participante assume plena e exclusiva responsabilidade face a eventuais reclamações de
terceiros e declara que resolverá todos os danos daí resultantes causados ao Organizador.
27. Das situações supramencionadas resulta a desqualificação do Concurso e a obrigação
da devolução do prémio atribuído pelo Organizador.
28. Qualquer dúvida ou esclarecimento adicional pode ser solicitado através do e-mail
arendicultural@gmail.com

                                                                             

 

 

 

                                                                         ANEXO 1

 

Criada por Zbigniew Herbert, em 1974, a personagem literária Senhor Cogito surge em algumas das suas obras. Como o próprio nome indica, Herbert inspirou-se no princípio filosófico de Descartes, Cogito ergo sum

A personagem reveste-se, por vezes, de aspetos autobiográficos, mas, de uma maneira geral, o Senhor Cogito representa o ser humano que pensa e medita sobre diferentes situações da vida, da existência e do mundo, levantando um conjunto de questões culturais, históricas e éticas na perspetiva do pós-guerra e do pós-humanismo. A personagem Senhor Cogito trouxe uma nova dicção à poesia polaca, dando voz ao  protótipo do homem pensante, sobrevivente da II Guerra Mundial, na segunda metade do século XX. Por tal razão, versa amiúde o ser humano no contexto dos dramas da sua vida.

As meditações do Senhor Cogito enquadram-se no âmbito do repto de “como escrever poesia depois de Auschwitz” e num pano de fundo de referências à cultura clássica (grego-latina) e renascentista, bem como à tradição cristã. Herbert, contrariamente a alguns dos seus pares não abordou a crise de valores, resultante da II Guerra Mundial, com desespero e fúria, tentando antes reconstruir o mundo a partir de escombros por meio de meditações assentes na experiência de uma infância e adolescência felizes, rica em valores positivos, inculcados pela família e pelos professores.

Como sintetiza Agnieszka Kluba «O Senhor Cogito conhece e admira o ideal de perfeição estóica, mas reconhece humildemente as limitações e fraquezas da sua própria natureza. Fala amiúde a partir da posição de observador, relatando o curso dos acontecimentos». 

Características de  O Senhor Cogito

  1. distanciamento de si próprio;
  2. ironia condescentente; 
  3. poesia escrita em tom de conversa ou de diálogo consigo mesmo ou com a tradição cultural;
  4. poesia escrita como quem se põe a pensar e a meditar;
  5. discurso, por vezes, literal, por vezes, simbólico;
  6. discurso ligeiramente moralizador;
  7. discurso, por vezes, aparentemente ingénuo, mas consciente;
  8. poesia que emana a sabedoria de quem sobreviveu à guerra, à crise de valores e conhece o mundo e o homem do lado direito e avesso;
  9. antipatia face a doutrinas, regimes, massas e multidões em prol da dúvida, da liberdade de pensamento e do homem individual;
  10. evocação de personagens históricas ou mitológicas (Nike, Gilgamesh, Heitor, Roland, Hamlet, Marco Aurélio, etc);
  11. busca de valores duradouros no mundo moderno: verdade, beleza, bondade.

Características estilísticas:

  1. frequente ausência de pontuação;
  2. verso livre e branco;
  3. metáforas transparentes;
  4. comparações.

 

O Senhor Cogito medita sobre o sofrimento 

Todas as tentativas de afastamento 

do chamado cálice de fel

através da reflexão 

loucas ações em prol de gatos vadios

respiração funda 

religião

fracassaram 

 

há que concordar

inclinar a cabeça suavemente

não baixar os braços 

usar o sofrimento com a suavidade possível 

como uma prótese 

sem falsa vergonha 

mas também sem orgulho

 

não brandir o coto 

sobre as cabeças dos outros

não bater com a bengala branca 

nas janelas dos satisfeitos 

 

beber extratos de ervas amargas 

mas não até ao fim 

deixar prudentemente 

uns goles para o futuro 

 

aceitar 

mas ao mesmo tempo

alhear-se 

e se possível 

fazer da matéria do sofrimento 

uma coisa ou uma pessoa  

 

brincar 

com ela 

claro 

brincar

 

brincar com ela 

com muita cautela

como uma criança enferma 

que nos leva a fazer

habilidades tolas

e um pálido

sorriso  

 

O abismo do Senhor Cogito

Em casa está sempre em segurança 

mas assim que cruza o limiar da porta 

pela manhã 

para dar um passeio 

o Senhor Cogito depara-se com o abismo 

 

não é o abismo de Pascal 

não é o abismo de Dostoievski 

é um abismo 

à medida do Senhor Cogito 

 

dias insondáveis 

dias que despertam terror 

 

o abismo segue-o como uma sombra 

pára junto à padaria 

no jardim sobre os ombros do Senhor Cogito 

lê com ele o jornal

 

incomodativo como um eczema

fiel como um cão 

superficial demais para lhe engolir 

cabeça mãos e pernas 

 

talvez um dia 

o abismo cresça 

o abismo amadureça 

e se torne uma coisa séria

nem que seja para saber 

que água bebe 

de que grãos se alimenta 

 

agora

o Senhor Cogito 

poderia apanhar 

uns punhados de areia 

e tapá-lo 

mas não o faz  

 

por isso quando 

volta para casa 

deixa o abismo 

no limiar da porta 

cobrindo-o com cuidado 

com o pedaço de um trapo velho

 

O Senhor Cogito lê o jornal 

 

Na primeira página

lê-se que foram mortos 120 soldados 

 

a guerra já dura há muito

é possível habituar-se 

 

logo ao lado uma notícia 

de um crime sensacional

com a fotografia do assassino 

 

o olhar do Senhor Cogito 

move-se com indiferença 

após a chacina dos soldados 

para mergulhar com prazer 

na descrição do quotidiano macabro

 

um trabalhador rural de trinta anos 

sob influência de uma profunda depressão

matou a mulher 

e os dois filhos pequenos

 

descrevia-se com precisão 

o desenrolar do homicidio

a posição dos corpos

e outros pormenores

 

não vale a pena procurar no mapa

os 120 mortos em combate 

porque uma distância desmedida

os oculta como uma selva 

 

não apela à imaginação 

são demasiados 

o número zero no final 

transforma-os em abstracção.  

 

um tema para reflectir: 

a aritmética da compaixão 

O Senhor Cogito e a imaginação 

1

O Senhor Cogito nunca confiou 

nos ardis da imaginação

 

o piano de cauda no cume dos Alpes

a  tocar falsos concertos  

 

não apreciava labirintos

a esfinge enchia-o de aversão  

 

morava numa casa sem cave 

espelhos e dialéctica 

 

as selvas de quadros emaranhados

não eram a sua pátria  

 

raramente se elevava 

nas asas de uma metáfora

de onde a seguir caía como Ícaro

nos braços da Grande Mãe

 

adorava tautologias 

explicação 

idem per idem 

 

que um pássaro é um pássaro 

escravidão é escravidão 

faca é faca 

morte é morte 

 

amava 

o horizonte plano 

a linha recta 

a atracção exercida pela Terra

 

2

O Senhor Cogito será incluído 

na espécie minores 

 

acolherá indiferente o veredicto

dos futuros homens das letras

 

usava a imaginação 

para outros propósitos 

queria fazer dela 

instrumento de compaixão

 

desejava compreender na íntegra 

 

– a noite de Pascal

– a natureza do diamante 

– a melancolia dos profetas 

– a ira de Aquiles 

– a loucura dos genocidas

– os sonhos de Maria Stuart

– o medo do homem de neanderthal

– o desespero dos últimos Astecas

– a longa agonia de Nietzsche

– a alegria do pintor de Lascaux

– o crescimento e o declínio do carvalho 

– a ascensão e a queda de Roma 

 

logo, dar vida aos mortos

manter a aliança 

 

a imaginação do Senhor Cogito

tem movimento pendular 

 

move-se com precisão

de sofrimento em sofrimento 

 

nela não há lugar 

para os fogos-de-artifício da poesia 

 

gostaria de continuar fiel 

à claridade da incerteza 

 

Tradução de Teresa Fernandes Swiatkiewicz

 

Mais informação em:

https://en.wikipedia.org/wiki/Mr._Cogito

https://viciodapoesia.com/2012/11/13/zbigniew-herbert-1924-1998-poemas-do-senhor-cogito

https://en.wikipedia.org/wiki/Zbigniew_Herbert

https://escamandro.wordpress.com/2012/10/19/zbigniew-herbert/

                                                                       

                                                                               ANEXO 2

                                                            FICHA DE INSCRIÇÃO 

 

Concurso de poesia inspirado na personagem Senhor Cogito de Zbigniew Herbert.

Nome completo: ____________________________________________________________

_______________________________________________________________________ 

Data de nascimento: _______/________/_________ 

Nacionalidade: _____________________________________________________________

Profissão: _________________________________________________________________

Morada: ______________________________________________________________ Código postal: _______/________ Localidade: ___________________________________ Telemóvel: _____________________ E-mail: _________________________________ Título do poema:____________________________________________________________ 

 

Tomei conhecimento do regulamento do Concurso de poesia inspirado na personagem Senhor Cogito de Zbigniew Herbert e declaro que aceito as condições nele expressas.

_______________________________________________________________________

(Data e assinatura) 

 

                          Autorização de tratamento e publicação de dados pessoais

 

Autorizo o tratamento e publicação dos meus dados pessoais, fornecidos na ficha de inscrição, no âmbito do referido Concurso no respeitante a: primeiro e último nome; nacionalidade; profissão e imagem (para os vencedores do concurso, se for transferida/tirada durante a cerimónia de entrega de prémios) na página eletrónica das instituições organizadoras do concurso e respetivas redes sociais, caso o meu poema seja o vencedor, venha a obter uma menção honrosa no referido Concurso, ou venha a ser selecionado para publicação em livro.  

 

_______________________________________________________________________

(Data e assinatura) 

 

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